Eu e os vestidinhos...

Costurando vestidos eu faço poesia: no contato com os tecidos, os coloridos das linhas e fitas, algo do desejo se coloca.

O desejo é a força motora da moda , disse Helmut Lang. Acredito nisso e gosto do efeito surpresa e do fascínio de desvendar os códigos do vestir. Uso a moda como uma maneira de transmitir uma mensagem não-verbal, para sutil e gloriosamente tocar o outro, o que já é um grande avanço nesses tempos de incomunicabilidade.

Se aos poucos fui absorvendo a pluralidade e as mudanças de linguagem no "fazer moda", meus sentidos também se aguçaram, e pude me jogar com paixão e descompromisso em vários exercícios estéticos e de criação. Isso me encanta e me emociona, antes de mais nada.

Não consigo conceber a moda como ela anda por aí: vazia, sem sentido, puro consumismo. Gosto de uma apreensão mais rica e inteligente da moda - e esse é um viés fascinante que, sinto muito pelo seus detratores, nada tem de superficial. A familiaridade com a linguagem da moda também nos ajuda a entender melhor a época e a sociedade na qual vivemos e nos anima a estar em harmonia com elas.

O criador, diferente daquele que só faz cópias é alguém que possui a chave de um mundo diferente e mais belo. Sou levada pelo afeto e procuro cultivar essa sensibilidade e o bom gosto.

Fui ensinada a olhar as coisas, observar com vontade, prestar atenção no outro, na forma, nas cores, nos sons.

E em meu mundo, cabe qualquer manifestação de estilo e de vida, desde que seja ética...